Manifestantes prometem protesto "ainda maior" no próximo domingo

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Segundo os organizadores, atos anti-governistas ocorrerão em pelo menos 378 cidades do país, 31 delas no Rio Grande do Sul, e devem superar as manifestações de março.

por Marcelo Monteiro
Durante a semana, Rafa Bandeira participou de penfletagens na CapitalFoto: Marcelo Oliveira / Agencia RBS

Protagonista dos atos anti-governistas que ganharam as ruas do país em 15 de março, o Movimento Brasil Livre (MBL) prepara para domingo (12) uma nova manifestação nacional, que, conforme promete em seus chamados via redes sociais, "vai ser ainda maior". Segundo os organizadores, os protestos serão realizados em pelo menos 378 cidades brasileiras, atingindo um número de manifestantes superior ao registrado nos protestos de março.
No Rio Grande do Sul, estão sendo preparadas manifestações em 31 municípios. Além do MBL, o grupo Vem pra Rua, que conta com mais de 460 mil curtidas no Facebook, também está convocando seus seguidores para os atos.

– O foco fundamental é o impeachment. Não acreditamos que a Dilma (Rousseff) tenha condições políticas, jurídicas e morais para seguir na Presidência da República. Mas também temos outras nove bandeiras – explica Fábio Ostermann, membro da coordenação nacional do MBL, que projeta a participação de entre 50 e 100 mil pessoas na manifestação marcada para as 14 horas de domingo, no Parque Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
Além do impeachment, o MBL quer a redução do número de ministérios pela metade, o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, a saída do ministro Dias Toffoli do colegiado julgador da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), entre outras medidas que, acredita, ajudariam a moralizar a gestão pública. As propostas ainda incluem a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar irregularidades no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o fim da alocação de verbas estatais em publicidade.


Organização dita código de conduta
Porta-voz MBL no Rio Grande do Sul, Rafa Bandeira adianta que, assim como no protesto de março, por questões de segurança o trajeto a ser percorrido na Capital só será divulgado no momento da saída dos manifestantes. Segundo o ativista, embora o movimento conte com o apoio de empresários, nenhuma entidade comercial ou industrial já manifestou apoio formal ou mesmo financeiro à causa:
– Não estamos aqui por grandes interesses de corporações. Lógico que grandes setores também sofrem com a paralisação do consumo, porque a economia está parando. Mas quem está sofrendo mesmo são as camadas mais pobres, que estão pagando a conta de luz, sentindo a inflação no supermercado – afirma Bandeira.

Na semana que antecede as manifestações, os organizadores divulgaram um guia de conduta, com orientações para quem pretende participar da mobilização. Bandeiras de partidos políticos, por exemplo, não serão permitidas. A sugestão é que os manifestantes evitem roupas pretas, que "lembram os black blocks", e vistam-se de verde e amarelo. "Confeccione faixas, cartazes. Leve bandeiras do Brasil, use nariz de palhaço. Leve cornetas, apitos, faça barulho! Leve também balões azuis, amarelos e verdes", diz um dos itens do guia.

Os protestos no Rio Grande do Sul
Alegrete - 15h30 - Praça Nova - Camelódromo
Alvorada - 14h - Praça João Goulart (Praça Central)
Bagé - 16h - Praça Esporte
Bento Gonçalves - 15h - Via Del Vino
Cachoeira do Sul - 16h - Praça da Matriz
Cachoeirinha - 15h - Em frente à prefeitura
Campo Bom - 9h - Largo Irmãos Vetter
Caxias do Sul - 15h - Praça Dante
Coronel Bicaco - 15h30 - Praça Municipal
Cruz Alta - 15h - Av. General Osório
Erechim - 15h - Praça da Bandeira
Farroupilha - 16h - Praça da Bandeira
Garibaldi - 16h - Av. Independência
Gravataí - 16h - Parcão
Imbé - 15h - Prefeitura
Lajeado - 16h - Parque dos Dick
Novo Hamburgo - 15h - Praça Punta Del Este
Passo Fundo - 15h - Praça da Mãe
Pelotas - 15h - Praça Coronel Pedro Osorio
Porto Alegre - 14h - Parcão - Parque Moinhos de Vento
Rio Pardo - 16h - Praça da Matriz
Santa Cruz do Sul - 16h - Praça da Bandeira
Santa Maria - 14h - Praça Saldanha Marinho
Santana do Livramento - 15h - Parque Internacional
Santo Ângelo - 16h - Praça da catedral
São Borja - 16h - Parque General Vargas
São Gabriel - 16h - Largo da Estação Férrea
Taquara - 14h - Câmara Municipal
Torres - 15h - Praça XV de Novembro
Três de Maio - 17h - Praça da Bandeira
Uruguaiana - 16h - Praça Barão do Rio Branco


Defensores de golpe não serão aceitos
Dois pontos que resultaram em polêmica após os protestos de 15 de março mobilizam a atenção dos organizadores dos atos previstos para o próximo domingo: a contagem dos manifestantes e a possível infiltração de grupos radicais, defensores de uma intervenção militar no país.

Sobre o números de participantes dos protestos, Ostermann garante que isso não chega a ser "uma prioridade", mas admite que o MBL usará drones para tentar obter uma dimensão dos protestos. Em março, enquanto a Brigada Militar (BM) avaliou que o público envolvido na manifestação de Porto Alegre havia superado as 100 mil pessoas, o Centro de Comando Integrado da Capital (Ceic) estimou o total em 30 mil pessoas. Em São Paulo, a discrepância foi ainda maior. Segundo a Polícia Militar, mais de 1 milhão de pessoas teriam participado do ato na Avenida Paulista. Para o Datafolha, o total foi de 210 mil.

Outra preocupação do MBL diz respeito à possível aparição, entre os manifestantes, de pessoas pedindo a volta do regime militar. No Facebook, páginas de movimentos como Intervenção Já, SOS Forças Armadas e Intervenção Antes que Tardia estão convocando seus seguidores a participarem do protestos de domingo, convocados pelo MBL e pelo Vem pra Rua. "Pelas Forças Armadas. Elas são a única instituição confiável que restou no Brasil", diz uma postagem do Intervenção Já. "Só a intervenção vai salvar a nossa nação", prossegue um dos posts do SOS Forças Armadas.

Entretanto, segundo Ostermann, bandeiras e gritos em favor de um golpe militar não serão bem-vindos nos protestos de domingo.
— Convidaremos essas pessoas a se manifestarem em outro local e outro horário. Não podemos aceitar como aliados quem defende posturas autoritárias — garante.
Entrevista
"Há um clamor popular"
Membro da coordenação nacional do MBL, Fábio Ostermann fala sobre a organização das manifestações previstas para o próximo domingo. Confira a seguir:
Além dos protestos, o MBL tomou alguma medida prática para a concretização do impeachment?
Tentamos manter uma certa independência, mas estamos em contato com lideranças parlamentares para fazer com que as nossas bandeiras cheguem lá (em Brasília). O PSDB, em tese principal partido de oposição, ainda está um pouco tímido em relação às manifestações. Estamos tentando mostrar que há um clamor popular em torno dessas bandeiras.


Como o movimento vai tratar os manifestantes que se mostrarem a favor de um golpe militar?
Como tratamos no dia 15 de março. Vamos pedir, educadamente, que as pessoas não levem este tipo de pauta antidemocrática. A gente entende o desespero de alguns em relação à atual situação do país, mas isso não pode ser aventado como uma saída para a crise institucional. Se for necessário, tomaremos medidas mais drásticas. Convidaremos essas pessoas a se manifestarem em outro local e outro horário. Não podemos aceitar como aliados quem defende posturas autoritárias.
O movimento terá alguma preocupação com a contagem de participantes?Infelizmente, não temos instrumentos adequados para isso. Não dispomos de helicópteros, por exemplo. Estamos contratando drones para ter uma visão aérea que permita uma contagem mais clara. Mas não é uma prioridade nossa fazer a contagem.
Depois do protesto em março, outro em abril. Vocês não temem que, aos poucos, caso não haja pressões por outros meios, possa ocorrer desgaste e desmobilização dos simpatizantes do movimento?
Estamos, na coordenação nacional, pensando em medidas para após a manifestação. Os participantes do MBL são pessoas que não têm a possiblidade nem a disposição de ficar saindo às ruas uma vez por mês. Precisamos passar ao próximo passo. Estamos discutindo algumas medidas que em breve vamos divulgar. Enquanto isso, seguimos mobilizando as pessoas.

As pautasO que o MBL busca com a mobilização
1. Impeachment: "a reforma política no Brasil começa com a saída de Dilma Rousseff".
2. Redução do número de ministérios pela metade: "o exemplo de austeridade deve vir do alto escalão da República".
3. Fim da fraude orçamentaria: "a Lei de Responsabilidade Fiscal precisa ser levada a sério para que o Brasil volte a crescer".
4. Saída de Dias Toffoli do colegiado julgador da Lava-Jato no STF: "não podemos ignorar seu histórico de parcialidade e adesão ao projeto político do PT".
5. CPI do programa Mais Médicos: "escandaloso esquema de financiamento da ditadura cubana com dinheiro dos nossos impostos que precisa ser urgentemente investigado".
6. CPI do BNDES: "abertura da caixa preta dos empréstimos concedidos pela instituição ao longo da última década".
7. Ajuste fiscal sem aumento de impostos: "o Brasil precisa de cortes orçamentários responsáveis e enxugamento da máquina pública".
8. Repúdio ao Foro de São Paulo: "é inaceitável a cooperação de partidos políticos brasileiros com organizações terroristas (Farc) e governos ditatoriais (Cuba e Venezuela)".
9. Concessão de asilo político a Leopoldo López: "o governo brasileiro deve repudiar oficialmente a violência do governo Venezuelano contra seu povo".
10. Fim das verbas de publicidade estatal: "devemos dar um fim a este claro instrumento de cooptação e censura à imprensa livre e independente". 

FONTE: MBL e ZERO HORA

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